Hidrografia

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Rios que banham nossa cidade.
Rio Vermelho - "Pedra Furada"


Dos rios que banham Jeremoabo o principal é o Vaza-barris ou Irapiranga do Gentio, sua nascente fica na Serra da Borracha, no Estado da Bahia em Monte Santo. Em Seguida, temos o Rio Vermelho, antigo Rio Jeremoabo, que nasce entre a Serra do Saco do Papel e Luiz Jacú, no lugar denominado Bebedor, distante duas léguas (12Km) da cidade, tornado-se afluente do
Vaza-Barris pela margem esquerda, depois de percorrer, aproximadamente, uma extensão de 15 quilômetros.  
Os dois passam hoje pelo processo de degradação ambiental. Devemos nos conscientizar  de que os dois são extremamente indispensáveis para a sobrevivência da população Jeremoabense. Vale lembra que das águas do Vaza-Barris são retirados milhões de litros cúbicos para as irrigações que muitas vezes acontecem de forma desordenada. Os proprietários de terras às margens do rio retiram a água de forma predatória. Devemos pensar urgentemente em formas e políticas para melhor aproveitamento dos nossos recursos hídricos, pois sabemos que a água potável  será um grande problema para as gerações futuras.
 
Rio Vaza-Barris
Ponte construída por Alemães em 1942 sobre o Rio Vaza-Barris


O Vaza-Barris é uma realidade quase virtual. Um fenômeno de hidrografia e imaginação. Esse rio feito de chuva, de mar, de fé e de história, nasce seco, no pé da Serra dos Macacos, em pleno sertão baiano, perto do município de Uauá, um dos principais criatórios de bode do país. Menos que uma nascente, o que se tem aqui na realidade é uma probabilidade líquida. O ponto exato onde ele deveria começar é uma várzea chamada Alagadiço Grande. Quando chove forte por essas bandas as águas que descem da serra e brotam das encostas inundam os baixios e formam a Lagoa dos Pinhões. É dela que o rio transborda e parte resoluto em impetuosa carreira rumo ao leste, à procura do mar. Ele percorre um traçado incerto e selvagem, típico de rio temporário, que literalmente vaza como onda gigante nas trovoadas de novembro a março, quando desabam as tempestades sertanejas.
Por isso, talvez, os indígenas chamavam-no de Ipiranga, "mel vermelho", numa alusão às correntezas barrentas que se formam nesse período. Euclides da Cunha, autor de Os Sertões – obra épica onde flagra a emergência de um Brasil republicano e elitista, alheio à sua própria identidade e assombrado diante do sertão –, disse que o Vaza-Barris, desde Jeremoabo (BA), mais ou menos o meio de seu curso, até as cabeceiras, constituía "uma fantasia de cartógrafos; o rabisco de um rio problemático". Embora não tenha recorrido a essa metáfora, poderia ter dito também que seu traçado encerra a simbologia de um país fragmentado e conflitante. Um país que mesmo observadores inteligentes como ele tiveram dificuldade de entender, resvalando aqui e ali em esteriótipos de "raça inferior" para explicar a tragédia social do seu povo.

Ao longo de 450 quilômetros de alucinante topografia, o Vaza-Barris exibe uma inquebrantável versatilidade de rio sertanejo em luta permanente contra a morte. À medida em que avança no sertão baiano em direção a Sergipe, ele intercala trechos secos e pedregosos, com canyons profundos e gargantas estreitas, onde, às vezes, desaparece; outras, corre como um filete frágil esgueirando-se por entre vertedouros rasgados ao longo de milênios de inundações.
Quem se dispuser a persegui-lo, com uma dose razoável de persistência e esforço, descobrirá nesse jogo de quebra-cabeça alguns dos mais belos inesperados cenários do sertão brasileiro. Um deles, sem dúvida, é a Cachoeira do Jacoca, afluente que avança pela região de Macambira (BA) até encontrar um desfiladeiro com mais de 40 metros de altura, de onde se derrama para injetar vida no vertedouro estrangulado do Vaza-Barris lá embaixo. Os paredões de pedra do Arara – outro afluente no mesmo município – confirmam o primitivismo geológico e a imponência geográfica que esse herói líquido desafia e supera ao longo de seu trajeto.

Vencido o sertão, o Vaza-Barris transforma-se num espetáculo aquático irreconhecível. Na sua foz, em Mosqueiro, no litoral sergipano, a 5 quilômetros da barra, ele vive da maré. Sua água naturalmente salobra, temperada por terrenos antigos e salino, torna-se então mais salgada ainda.
E ganha uma calha espaçosa que mede mais de 800 metros de largura com até 30 metros de profundidade, rodeada de manguezais férteis. Desse imenso criatório de curimatãs, caatinga, as cachoeiras encapsuladas em furnas, o estranhamento frente a um Brasil agreste e arredio. Na tensão dessa polaridade geográfica – e cultural –, explodiu um conflito sangrento, o maior massacre de civis da História brasileira: a Guerra de Canudos.

Desde abril de 1968, cerca de 300 quilômetros do rio Vaza-Barris tornaram-se menos voláteis graças ao açude de Cocorobó, que passou a alimentar sei baixo curso. Ele barrou as águas numa garganta estreita, circundada por um anel de serras e desfiladeiros, propícios a emboscadas que os sertanejos não desperdiçaram. No fundo da grota inundada ficava o arraial – "Canudos era uma tapera dentro de uma furna" (Euclides da Cunha).
A barragem de 600 metros de comprimento, com uma saia de 300 metros, demorou oito meses para ser construída. Em março de 1968 quando ficou pronta, os técnicos previram que o rio levaria 10 anos para encher uma área de 16 quilômetros de extensão por 5 quilômetros de largura, com profundidade média de 20 metros. Era mais uma demonstração oficial de desconhecimento das leis que regem o sertão.
No início de abril de 1968, uma tromba-d’água arrasadora trouxe dos confins da Serra dos Macacos a força esquecida e menosprezada do velho Vaza-Barris. E o Cocorobó sangrou em apenas três dias de fulminante inundação.

O Cocorobó hoje está 12 metros abaixo do seu nível normal. Como se adivinhasse o centenário do massacre – em outubro de 1897 –, o rio que afogou Canudos agora devolve ao país rescaldo de sua memória. Há três anos o Vaza-Barris não repões suas águas na represa, o que permite que lentamente ressurjam fragmentos do antigo arraial. Entre eles, a ruína da igreja nova – erguida por Conselheiro – que emerge como uma esfinge solene e desafiadora. A 100 quilômetros do Cocorobó, de volta ao cenário seco de sua nascente, bem junto a Lagoa dos Pinhões, o Vaza-Barris reflete e atualiza as lições desse passado.
 
Fonte: www.jeremoabo.ba.gov.br e www.portaljv.com.br
 
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